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No fim do meu ensino médio, minha família mudou-se do calor e da poluição de um subúrbio no Texas para a quietude de uma casa no Colorado pressionada contra o sopé das Montanhas Rochosas. Pela primeira vez na vida, meus pais decidiram ter nossa casa nova construída desde o alicerce, e durante meses aguardamos no calor do Texas notícias semanais sobre nosso bangalô no Colorado, enquanto os construtores lentamente davam à luz a casa. Nenhum detalhe foi ignorado; dos móveis da cozinha aos florais papéis de parede, discutíamos cada minúcia em família, passando adiante com entusiasmo nossas escolhas. Quando finalmente percorremos a interminável estrada de terra numa ensolarada manhã de verão e chegamos à entrada da garagem, tudo era exatamente como havíamos imaginado, desde os altos pinheiros e os tremulantes álamos até a varanda que circundava toda a casa, destacando as enormes janelas dispostas de modo a exibir a íngreme subida do Monte Herman mais adiante. Tudo era perfeito.
Tudo, quero dizer, exceto o gramado.
Chamar aquilo de gramado teria sido, talvez, enganador, pois a vasta área aberta na frente da casa era pouco mais que uma extensão de terra, num gritante e desagradável contraste com o idílico vale na montanha que cercava a construção por todos os lados. O terreno havia sido aplanado e nivelado, o que constituía seu único atrativo, e se detinha indiferente diante da casa como um hóspede não convidado. Nossa casa anterior a essa ostentava meio acre de área relvada com espaço para correr e explorar, e, contrastando com isso, a frente da nova casa destoava de todo o resto. Em razão de alguma falha na comunicação, o espaço na frente da casa permanecera inacabado, o único aspecto incompleto de nosso refúgio nas montanhas. Vários dias teriam de passar até a chegada da grama que cobriria o terreno, transformando aquele canteiro de obras num adequado campo gramado.
A estranha dissonância cognitiva do quintal inacabado funcionou como uma caixa de ressonância para a enxurrada de novas experiências que me surpreenderam nos primeiros dias lá. Tudo era diferente; longe da úmida, verdejante paisagem do centro do Texas, esta paisagem era severa e impressionante, erguendo-se em paredões íngremes e projetando-se em ângulos estranhos. O ar gelado e árido da noite afligia minha respiração, meus pulmões não tendo ainda se acostumado com a altitude de mil e seiscentos metros. Em vez de densos carvalhos com copas frondosas e húmus macio embaixo deles, sempre-verdes finos como lápis erguiam-se sobre o chão de esboroável arenito da floresta coberto de espinhentas agulhas de pinheiros. À noite, as estrelas se projetavam em nossa direção com uma atenção clara, não obscurecida pelo pequeno clarão das luzes da cidade ao qual estávamos tão acostumados. Toda essa experiência era fascinante, mas eu me sentia mantido à distância. Queria me aproximar, queria abraçar essa nova orientação do meu mundo, e no entanto, a exemplo de meus pulmões, minhas articulações continuavam desajustadas, sempre rangendo mais do que o normal para acompanhar a corrente constante de afluentes novidades.
Ainda me lembro do caminhão aberto que, poucos dias depois da mudança para a nova casa, chegou roncando na entrada da garagem, parecendo um enorme monte móvel. As placas de grama encomendadas por meu pai estavam dispostas em pilhas de dez e tremeram como num terremoto quando o motorista desligou o motor. Com muito cuidado, cada estrado foi retirado da carroceria do caminhão e todos foram colocados em perfeitas fileiras na frente da casa, aguardando ali pacientemente até que alguém viesse e destinasse as placas de grama para sua ocupação final.
― O que vamos fazer com essa grama? ― perguntei a meu pai.
― Plantá-la, é claro ― respondeu ele.